Hoje li uma reportagem, como faço costumeiramente, sobre a
simplicidade como um estágio pleno da felicidade. Bom, sempre que vejo essas
coisas me questiono e quase entro numa espiral, porque não encontro sentido no
que leio. Mas, essas reportagens sempre são acompanhadas de ilustrações para
facilitar a interpretação e ainda assim não compreendo o que leio.
Simplicidade! Bom, poderia dizer o simples é imperceptível
porque é comum e, por isso, está em toda parte, em todos os lugares... bem,
poderia ser isso, mas não é! A simplicidade a qual é tema de muitos textos
consiste em um estilo de vida sofisticado. Explico. Olhando as imagens eu vejo:
casas amplas, terrenos mais amplos do que se vê nas grandes cidades, jardins,
de inverno ou verão, varandas largas e com decoração. A arquitetura e o
paisagismo são intrínsecas ao estilo de vida simples. Se há tanta sofisticação,
digo isso em razão da complexidade e da estilização desse modo de vida, por
que, diabos, chama-lo de simples?
Não vejo outra resposta senão a velha resposta de que não
podemos compreender a simplicidade das coisas e das relações, sem saber quem as
enuncia. O exercício mais árido é compreender os hábitos de consumo que mudam
de acordo com a classe, a instrução, origem regional e cultural. Porém, sabemos
que nossa vida em sociedade produz formas de ser, estar e sentir, nesse sentido
o simples é simples, mas para um público alvo que se vê naquilo. Vê nas
soleiras das casas de madeira tomadas por trepadeiras em flor, algo bem simples.
Olha para uma casa a beira de um lago, com um deque e um
barquinho a remo coisas simples destituídas de valor e sofisticação.
Evidenciando que a simplicidade é sair do centro urbano e sentir a brisa, a
umidade do ar, o barulho das águas quebrando nas pedras... Bom, um conto de
fadas, é claro! Tudo isso tem que ser pago, o tempo necessário para sair do
centro urbano tem que ser pago e custa caro, tão caro que há pessoas que passam
toda a vida vivendo e se alimentando dessa imagem idílica.
Não acredito que haja um modo de vida que por si mesmo
produza felicidade. Muito duro generalizar o sentir, dependo do momento, do
contexto, da situação. Se há desemprego não há simplicidade que sossegue uma
cabeça premida pela insegurança. Bom, conheço muitas pessoas que tem a vida
simples, pouco luxo, pouca comida, casa pequena, vida limitada e nem por isso
são felizes. O que elas procuram? Sei lá! Vai saber? A procura sempre está
associada a algo que impeça a sua efetivação... me parece que a busca pela
felicidade é mais uma das armadilhas de quem vive sob a batuta do capitalismo,
mais uma das imagens de mundo fantásticas. Bom, não posso dizer que ter tempo
livre, comida boa, casa boa seja algo ruim. É bom. Mas isso não significaria que a
felicidade se encontrasse, tão só, na moradia ou na alimentação. O estilo de vida
que procuramos pode ser chamado do que quiser, mas dizer que em si produz
felicidade é demais.
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