Um relato nunca é capaz de capturar a
experiência do ser, por algumas questões suspeito eu; de um lado todo o relato
é consciência pretérita do fato; doutro lado os fatos são explicados por
aproximações, por espelhamentos e mesmo a viagem de volta em que vasculhamos o
terreno sinuoso e acidentado do real não chegamos senão a abstrações finas e
conceitos.
Todavia pensamos algo sobre o que
acontece na prática então a ideia do real é um pensamento sobre o real, ainda
que seja ideia é do real que partimos e nele que pretendemos nos referir.
Em Marília a intensidade e a dinâmica
das atividades tomaram todos os dias em que lá estivemos, mas existiram espaços
de convivência para além do encontro. No caminho para o encontro passei pelas
horas mais fenomenais dos meus dias até então vividos. Dividindo um espaço
pequeno e abarrotado de coisas pude experimentar a felicidade.
Nos olhares eu me lembro deles, cada um
expressava, a seu modo, a expectativa de um momento algo em latência mas que
estava prestes a emergir e tomar forma nas faces esmorecidas pelo cansaço do
cotidiano de trabalho. Não por acaso que no domingo o clima de viagem já fazia
presente, de tal sorte que cada qual o captava e demonstrava.
O prazer de estar em um carro por 9h
numa estrada, aparentemente, soa um tanto contestável, mas sobretudo construímos
um universo de parceria tão sensível e visível que fizemos coro, com as
músicas, com discussões, com gargalhadas tornamos tudo coletivo, comida, medos,
desejos, aplausos resignações, sim dentro de um carro tem-se que se resignar
com sua condição.
Desafiador, fora compreender como operar
o GPS que apontava para o lado oposto a direção necessária, as placas de
sinalização confundiram a todos com signos, cores e tamanhos que aos olhos, mesmo adestrados pelo behaviorismo da sinalização de trânsito, causou estranhamento.
Antes da chegada ao encontro vivenciamos
o momento tão importante quanto, a preparação – inscrições, planejamento,
produção de trabalhos e ansiedade – que tomou bastante tempo alterando
significativamente a rotina de cada um, com intensidade diversa a cada pessoa.
Lembro-me quando da aprovação do trabalho que escrevi “Dirigindo a Quimera: a
morfologia do trabalho dos motoristas do transporte coletivo de Goiânia”, meio
que um impacto com um teor de euforia e por outro lado de satisfação, o
desencadeamento das sensações tornou-se possível pelo período em que me envolvi
em atividades coletivas – acadêmicas e políticas – não por acaso uma ideia
inundou minha cabeça, a necessidade de agradecer as pessoas que participaram de
todo o processo.
Marília – Rosa – dimensionar a
importância dessa experiência para a formação humana, da qual penso ser a mais
apropriada, seria o mesmo que tentar lançar sobre o curso de um rio uma pedra e
a partir daí querer precisar qual impacto dessa pedra nas águas insurretas do
rio, querer pará-las, no instante do contato – algo inimaginável. À tradição de
esquerda do Campus Marília.
Comentários
Postar um comentário